(Imagem: Divulgação)
Tive a oportunidade de conferir o espetáculo "Horses Hotel" na apresentação deste sábado, no Guairinha, dentro da programação da Mostra Oficial do Festival de Curitiba. As apresentações marcaram a curta temporada de estreia nacional da peça, que segue para o Rio.
Ao comprar o ingresso, li a sinopse do espetáculo que fazia parte do guia oficial da mostra. O texto dizia:
"Livremente inspirado no universo da cantora e poeta Patti
Smith e do fotógrafo Robert Mapplethorpe, o espetáculo se propõe como um
concerto de rock realizado em um quarto de hotel. Com referências a Andy
Warhol, Kurt Cobain e Lou Reed, são narradas as aspirações de três jovens
sedentos por liberdade e seus relacionamentos entre si. Uma poeta, um
guitarrista e um ator se entrelaçam e compartilham a visão do mundo além das
paredes do hotel, em um triângulo amoroso camaleônico que, apesar de agudo e
áspero, destaca o afeto e a lealdade, sempre presentes na trajetória de tantos
ídolos da geração de 1970".
Comprei o ingresso visualizando que teríamos bastante "sexo, drogas e rock and roll" no palco. Patti Smith é figura fundamental do rock punk nos anos 70 e Robert Mapplethorpe, fotógrafo falecido nos anos 80, foi um artista provocador de grande polêmica pela temática abordada nos seus trabalhos. Além disso, as informações eram claras ao trazerem a descrição de "um triângulo amoroso agudo e áspero".
Bem, ao chegar no teatro e observar a platéia presente, perguntei-me: "será que algumas destas pessoas leram a sinopse antes de comprarem os ingressos?". Conhecendo minha cidade, fazendo teatro há algum tempo por aqui e sabendo como as coisas acontecem pelas bandas de cá, fechei a reflexão sabendo que a partir do início da apresentação poderia acompanhar reações diversas do público e, inclusive, veria algumas saídas de pessoas durante o espetáculo. E isso independente de a peça ser boa ou não. Isso poderia acontecer apenas pelo fato da peça abordar os tais temas bem informados na sinopse amplamente divulgada pelo festival e pela imprensa em geral. E foi isso que aconteceu. Mais ou menos na metade da apresentação, quando uma das personagens começou a tirar a roupa percebi que a platéia segurou o fôlego e, após os trajes ficarem completamente de lado, ouvimos um belo "óóóó!!!", como quem diz "e não é que ele tirou mesmo?!...". Para complementar o quadro, as indicações do triângulo amoroso, de relações homossexuais, de bissexualidade e de drogas também incomodaram. No final, vimos um público que, na sua maioria (não todo como é de costume por aqui) aplaudiu de pé e alguns (como eu) com mais entusiasmo.
Infelizmente, vemos que o público da cidade talvez não se informe corretamente sobre o espetáculo que vai assistir. Quem sabe este mesmo público esteja interessado no grande evento social que é uma mostra como o Festival de Curitiba. Talvez se esqueça que também é um evento cultural e que uma peça de teatro também serve para trazer histórias diversas, retratar outras realidades, questionar o lugar comum, e, como o espetáculo se propunha a ser, trazer referências contestadoras de quebra de tabus e assim por diante.
Após vinte anos de Festival, pensava que os reflexos da mostra pudessem ter sido mais abrangentes no que diz respeito ao repertório comportamental e cultural da nossa capital. Mas pudemos perceber que ainda há muito chão pela frente!